quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Aventura pela Itália e Leste Europeu

Chegada em Roma: Yamandú Costa, Deep Purple
 e Hector, o roqueiro de Roma


Acabou agora o show do Yamandu Costa no Auditórium Palácio da Música em Roma. Yamandu veio à cidade participar do projeto BRASIL!!! Uma semana de apresentações artísticas promovida pelo ministério de Relações Exteriores do Brasil em colaboração com a Fondazione Musica per Roma. 
   Assistimos ao show "de camarote". Numa gentileza do amigo Cláudio Frazê, produtor de Yamandu em Roma, ganhamos dois lugares na primeira fila e vibramos com a perfomance do músico que levantava a platéia a cada "rascada" final na madeira do violão.
   Yamandu é uma figura no palco. Violão acústico, com apenas três microfones captando e reproduzindo o som, o músico consegue, alternando entre o baixo e o alto, o suave e o forte, a repetição da mesma frase musical em várias harmonias diferentes, produzir um um show tão grande que emociona a platéia.
   Com a casa cheia, vários brasileiros na platéia, Yamandú fez o que sabe fazer de melhor: tocar virtuosamente o seu violão e emocionar o seu público.
   Mas algo o diferencia como artista: a sua presença de palco. Yamandú entra calçando alpargatas, bombacha branca, camisa clara, uma echarpe no pescoço e o violão na mão. É humilde...e gigante.
    Já na primeira música deixa claro que não veio para brincadeira. O dedilhar interminável nas cordas do violão vem sempre acompanhado de caras e olhos. Em momentos de trabalho intenso, música forte e alta, arregala seus olhos com apreensão e meneios de cabeça. Às vezes, a execução de notas fortes é seguida de movimentos intensos com o braço do violão como se toureasse a platéia para logo em seguida baixar totalmente o som e desaguar em movimentos suaves que vão dos ombros aos pés e a cabeça voa de um lado para o outro como se estivesse sonhando e contando um história com aquela música. E está, pois até o público viaja na história de tanta emoção que o gaúcho coloca na sua arte. 
   Cosa de loco!

   A chegada em Roma
Hector, o roqueiro de Roma
   Aterrissagem às 7 da manhã no aeroporto Leonardo da Vinci. Trem até a Roma Termini e depois um taxi até o apartamento no Trasteveri, um dos bairro mais antigo da cidade onde estamos hospedados.
   De saída me aparece um personagem tirado daqueles documentários de bandas de rock centenárias: Hector, o motorista de táxi. Cabelos ralos, longos e pintados de negro graúna, Hector se apresentou, pegou o endereço, colocou o "último" do Deep Purple a mil nas caixa de som do carro, elevou a velocidade do táxi e da conversa. 
   Manhã de bonita, trilha sonora pra gente grande e conversa desencontrada (italiano, espahol, ingles e portugues) fizeram a nossa chegada em Roma esta manhã. 
    Às 8:30h da manhã a convesa já tinha chegado a um nível tão alto que a Gisa, curtindo um jet lag no banco traseiro, teve de intervir com vemência pois a coisa estava tomando uma velociade descontralada.
    O Hector é o personagem aí na foto com cabelão de Roberto Carlos. Figuraça!


 ROMA É COMO QUARAÍ  

Queridos leitores, Roma é simplesmente fantástica! Estamos maravilhados com a cidade. Linda, limpa, cheia de história...de milhares de anos! Roma é a própria história. 
   No segundo dia acordamos um pouco tarde e saímos de casa com o café queimado.    Acordei às 11:30h, 6:30h no Brasil, horário que levanto...ehehehehe.
Piazza Navona
   Descemos a ladeirinha da Paulo Rusconi, mapa na mão, mochila nas costas e pegamos a primeira "trama" que passou em direção ao centro da cidade. Trama é como eles chamam o trem de superfície aqui. Rápido, silencioso, confortável e não poluente. Lembrei das mentiras de Luiz Henrique da Silveira quando desperdiçou dinheiro público com projetos fantasiosos de um trem de superfície para Florianópolis.    
   Assim que passamos o rio Tevere, que corta a cidade, descemos e partimos a pé para o Campo de Fiori, área renascentista com um mercado aberto rodeado de restaurantes e dois palácios, Palazzo Spada e Palazzo Farnese, ambos dos séculos XVI e XVII.   

Encontro com o Yamandú
 numa quebrada de Roma...
Roma é quase uma Quaraí!
   Estávamos chegando na Piazza Navona, a mais bela praça barroca de Roma, onde fica o belíssimo Palazzo Pamphili, que desde 1920 é a sede da embaixada brasileira na Itália.
   Roma é acolhedora. Me senti em casa, quase como em Quaraí, onde todos se conhecem e se encontram na rua.
   Foi o nosso caso. Dobramos a primeira esquina e escutei: 
   - Canga, Canga!
   Era o amigo Cláudio Frazê (Grupo Engenho) com o Yamandú Costa. Voltavam da Embaixada Brasileira. Tiramos uma foto com o músico que havíamos assistido na noite anterior e botamos o pé na estrada...literalmente. Caminhamos do meio-dia às 8 da noite. Coisa de louco, cerca de 12 km. 
   Piramos em Roma!
Pantheon
   Limpa, extremamente acolhedora, não agressiva mas fervilhante de pessoas do mundo todo. Com sua arquitetura exclusiva, Roma em nada lembra as cidades brasileiras a não ser pela sua gente.  A princípio, se abstrairmos a situação de estarmos na Europa, a sensação é de que se conhece todo o mundo. O povo italiano é muito parecido com o brasileiro. Tanto na fisionomia como na forma de se mexer, alegre e expansivo. Estamos em casa. 
 Saimos da Piazza Navona fomos até o Pantheon, uma estrutura construída toda em mármore pelo imperador Adriano, coisa de 125 anos antes de Cristo. Antiga, mas impecável na sua beleza. Abaixo do fantástico teto abobadado estão túmulos de vários reis da Itália moderna e do pintor Rafael, considerado o principe dos pintores renascentistas.
Basílica de Sto. Inácio de Loyola
   Bem, para o lado que se olha se encontra um ruína, um palácio uma piazza e muita gente, gente do mundo todo. Seguimos em frente e encontramos a Basílica de Santo Inácio de Loyola, aquele que agente estudou no primário e que criou a Companhia de Jesus. A igreja é algo maravilhoso, cheia de afrescos e imagens esculpidas em mármore, claro.
   A essa altura já estava caindo pelas tabelas...de fome. Paramos em um dos muitos restaurantes que existem nas piazzas e almoçamos. Com 25 euros por pessoa se come bem em Roma. Com entrada, prato principal, vinho, água e sobremesa. 


Multidão e imponencia
      Bariga cheia, fomos enfrentar a extasiante Fontana di Trevi. O tamanho e a beleza da fonte é algo indescritível. Depois, a quantidade de gente que se aglomera para fotografar e admirar o monumento é surpreendente. A figura de Netuno ladeado por dois tritões, esculpida no século 18 é imponente sobre o cenário de gente que rodeia a fonte de água corrente e abundante.
   Bem, o roteiro continuou até às 8 da noite. Fomos na Piazza de Espanha, maravilhosa, Piazza del Popolo, antigo local de execuções públicas onde se encontra um dos mais antigos obeliscos de Roma. Um monolito de 1200 A.C. trazido do Egito por Augusto. Os caras não eram fracos.
Monolito trazido do Egito...só isso!
    Depois, já voltando para casa, atravessamos a ponte Humberto I, em frente ao grandioso prédio do tribunal de justiça - que de grandioso só tem o prédio segundo um taxista nos disse no primeiro dia de Roma - caminhamos pela beira do rio Tevere, passamos pelo castelo Sant’Angelo e acabamos na porta do Vaticano...ufa!
Já era noite. Ficamos por ali mirando...mirando e como já era hora do rush, pegamos o rumo das casas diapé
   Noite de lua cheia maravilhosa, continuamos até a ponte Sisto. Nos rendemos ao cansaço e pegamos um táxi até a perto de casa e fomos tomar uma birra bem gelada no buteco árabe da esquina. 
   Amanhã tem mais. 


TERCEIRO DIA EM ROMA
  
Ontem, quarta (18) saimos cedo de casa e compramos passes para todo o tipo de transporte urbano. Foi a nossa primeira experiência no transporte coletivo de Roma. Pagamos 32 euros por dois cartões para serem utilizados em três dias. Essa era apenas uma das opções que nos foi oferecida em uma pequena tabacaria da esquina de casa.   
Tinha passes de 1 dia, 100 minutos, 1 semana e outro de 36 euros que além de garantir deslocamentos em trens, metro e ônibus por toda a cidade ainda dava direito a entrada em museus, inclusive o do Vaticano.
Kit turismo
   Bem, a experiência foi muito boa para ver como temos a aprender e melhorar em termos de mobilidade em Florianópolis. Deu para ver como tudo funciona maravilhosamente bem quando existe investimento e vontade política voltada para a qualidade e conforto da população. Todos os ônibus, trens e metrô são limpos, refrigerados e pontuais. Tudo é muito bem indicado em placas, luminosos e por meio de informação de voz nas estações e dentro dos veículos. Não é necessário ser romano para se locomover com facilidade e conforto nesta cidade. Uma maravilha!
   Andar por Roma é facílimo basta um "kit turismo" básico: mapa da cidade (distribuidos gratuitamente em hotéis e pontos de informações), um pequeno guia turístico de Roma (tipo o editado pela Folha de SP), passes transporte, passaporte, uma garrafa dágua que pode ser abastecida a todo momento nas várias bicas instaladas na cidade, roupa e calçados confortáveis. Pronto, com este arsenal básico você poderá, como eu, caminhar até 12 km por dia e ser feliz em Roma.

  Roma Capital do Mundo
Campidólio: Centro religioso e político
    Nosso terceiro dia na cidade foi dedicado à região mais antiga de Roma. O Campidoglio, um complexo que abriga igreja, templos e museus (um deles projetado por Michelangelo), foi o centro da vida religiosa e política da antiga Roma quando era considerada a Capital do Mundo.
   Próximo do Campidólio mergulhamos no Fórum romano que reúne o Coliseu, Arco de Tito, Arco de Constantino e os Mercados de Trajano, o primeiro shoping center do Ocidente. Só ali, o imperador Trajano explorava, em 150 lojas, sedas, especiarias, frutas, flores e peixes. Isso tudo a 3 mil anos atrás! Século I D.C.
À esquerda a Coluna de Trajano. Ao centro o seu "shopping" de 150 lojas
Ruinas do Fórum
   O Coliseum é fantástico pela sua grandeza e imponência. Local de diversão do povo, lutas mortais e enfrentamentos com feras, a gigantesca arena foi iniciada pelo imperador Vespasiano em 72 D.C e terminado por seu filho Tito.
   A beira da morte Vespasiano escreveu uma carta a Tito. Mais semelhante ao que acontece nos nossos dias no Brasil impossível.
   A ela:
   22 de junho de 79 d.C.
   Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses 
te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades os inimigos, acalmando e os vulcõe. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: Não pare a construção do Coliseu. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos.
   Pensa: Onde o povo prefere sentar, num banheiro, num banco de escola ou num estádio?
   Num estádio, é claro.
Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma e sempre que o olharem dirão: “Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou”

Pão e circo
   Outra vantagem do Colosseum: Ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de necessidade.
   Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas, até um cego vê isso. Portanto, deves construir esse estádio em Roma.
   Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Para seduzir o povo, pão e circo.

   Esperarei por ti ao lado de Júpiter.


   Após a visita ao Coliseu, seguimos até a pequena praça Veneza e ficamos sentados admirando o gigantismo do monumento a Vitório Emanuelle II. Demos uma pausa para o almoço. Vinho, cordeiro, omelete, salada e água, tudo isso na sombra fresca de um parreiral. É ruim...
   Renovados, estreamos no metrô de Roma. Linha azul: Coliseu/ Termini. Depois linha vermelha: Termini/Otaviano às portas do Vaticano. O metrô limpo, refrigerado e rápido.
   Eram 16:30h quando decidimos enfrentar um multidão, multiracial, multinacional, multi cultural...emfim, multi tudo, porque é muita gente querendo entrar na Basílica de São Pedro. De grátis!
   Depois de muita água e passos lentos entramos na Basílica. Valeu à pena pela beleza dos afrescos e a suntuosidade da aquitetura. A nave principal tem 218 metros de comprimento, tudo trabalhado em mármore. A cúpula pintada por Michelângelo tem 136 metros, a mais alta do mundo! A Pietá, esculpida em mármore por ele aos 25 anos, mesmo estando protegida por um vidro a uns 5 metros do público, é algo indescritível!
   Bem, a essas alturas a gasolina já estava acabando. No caminho para sair da praça S. Pedro descobrimos como comprar os ingressos para o Museu do Vaticano sem entrar em filas quilométricas. Deixamos 40 euros no cofrinho do Papa Chiquinho e saimos com os ingressos na mão para às 10h do dia seguinte. Tudo dando certo.

GENESIS
   O último programa do dia foi uma visita ao museu Ara Pacis onde apreciamos a fantástica exposição fotográfica do brasileiro Sebastião Salgado. Genisis merece ser vista por todos. Uma viagem pelas regiões mais inóspitas dos quatro continentes sob o olhar mágico deste gigante da fotografia.

    O dia já estava ganho. Nos dirigimos a um café na ponte Cavour e, admirando a lua cheia sobre o rio Tevere, esperamos o rush passar. Ônibus, trem de superfície e 9 horas da noite estávamos em casa. Cansados e felizes.

   "As mina pira em Roma!"



  O JOGADOR

  Este pequeno e divertido relato faço mais para meus dois parceiros de jogo. Sim, parceiros, eu os tenho. Não são adversário, são parceiros, jogam emparceirados comigo contra a "banca", sempre. A vida de jogador tem alguma indiosincrasias bem peculiares que, somentes os habitantes do "meio" conseguem perceber.
    Não é bem o caso do acontecido esta noite de sexta-feira no corredor do quarto andar do Sheraton Firenzi Hotel. De qualquer forma o relato é mais dirigido aos parceiros. Entenderão melhor e darão boas gargalhadas pois a situação é tão ridícula e engraçada que consegue reunir - em um pensamento rápido e descontrolado, indominado pelo vino - Aléxis Ivanovitch, personagem principal de Fiódor Dostoiévski em seu livro O Jogador, e uma máquina de água e refrigerante que o Sheraton disponibiliza em cada andar do prédio.
    Depois de uma viagem maravilhosa no trem rápido, Roma/Firenzi, cheguei ao hotel ladeado por uma autopista, nas cercanias de Florença. A primeira coisa que perguntei foi se existia, por ali, máquinas caça-níqueis. Diante da negativa, torci o nariz e subi ao quarto númeo 4074 (pavão na zooteca). 
   Enchi a banheira com água quente e mergulhei meus pés  massacrados de tantas andanças nos últimos dias em Roma. Claro que o bálsamo reparador foi acompanhado de um Santedame 2009, um Chianti Clássico. Vinho com a certificação do Galo Nero, como aconselha meu sogro, mestre dos vinhos, Walmor Belz.
   Vinho bom desce rápido. A água do frigobar escasseou e tive que recorrer àquela máquina caça-níquel, fria, de alumínio e vidro que poderia resolver o meu problema de haver ultrapassado o limiar de perda dos 0,5% do meu peso em água. É quando surge a sede.
    Me dirigi à máquina com várias moedas de 1 e 2 euros na mão. Queria resolver o problema e voltar rapidamente ao quarto. Como cada garrafa de água custava 1,5 euros, coloquei quatro moedas de 2 euros na máquina na esperança de conseguir 5 garrafas de água e receber troco de 33 cents.
    Engolidas as moedas, imediatamente a máquina começou a funcionar, emitiu uns ruidos estranhos, de máquinas, e devolveu apenas uma garrafa d'água! Fiquei esperando pelas outras quatro e, aí vem a parte interessante, não caiu mais nenhum. Em vez de garrafas a máquina começou a vomitar moedas, que caiam em quantidade e faziam aquele som clássico das maquinetas dos cassinos quando pagam um bom premio, o do níquel pesado batendo no alumínio fino. 
    Na hora encarnei Aléxis Ivanovitch no seu pensamento de atingir o objetivo final, quebrar a banca!
    Não era nada disso. A máquina aceita uma moeda de cada vez, engole moedas de 1 e 2 euros e devolve sempre em moedas de 25 cents, ou seja, a cada moeda de 2 euros, se ela fizer devolução, vai devolver quatro moedas de 25 cents. Foi isso que aconteceu. O barulho do níquel com o alumínio dava um sensação de quantidade e eu, por um momento, achei que estava diante de mais uma daquelas máquinas descontroladas que volta e meia aparecem nas nossas estradas.
   Não foi desta vez!

   

A AVENTURA CONTINUA

Queridos leitores,
reconheço que estou em dívida mas a falta de informações da viagem se deve à difícil tarefa de conciliar as andanças e descobertas maravilhosas pela Itália com a rigidez da rotina de um blog do cotidiano.   
Largo Federico Fellini

final da Veneto
Já estou em Florença, a três dias, a caminho de Veneza. Muita água já rolou neste período. Me perdoem o tracadilho, sei que muita água está rolando por aí e no Vale do Itajaí.
   O meu estilo aventureiro da viajar gera alguns percalsos que acabam tomando muito tempo no planejamento dos próximos destinos. Viajar assim é legal. Vou onde quero, na hora que quero e quando quero. Viajo como toco a minha vida, sem amarras, sem patrões e sem horários. É mais livre, porém muito mais trabalhoso. Nem sempre temos o melhor hotel e os meios de transporte nas datas e horários que queremos. 
Harry's Bar charme na Veneto
   A despedida de Roma foi inesperadamente maravilhosa. Saimos do apartamento por volta das 11 da manhã, compramos passagem de trem para Florença, na Estação Termini, para as 16:50h.

   Via Veneto
   Tinhamos tempo para ainda dar uma banda por Roma. Malas no guarda 

bagagem, que aliás é super organizado e com esteira com raio-x como nos aeroportos, e pé na rua de novo. Pegamos, dentro da Roma Termini, um metrô até a Via Veneto, uma das ruas mais famosas e caras da Europa.
   Eternizada no filme A Dolce Vita, de Federico Fellini, a Via Vitorio Veneto é curta, arborizada e charmosa. O passeio valeu cada centavo, foi lá que tive a primeira experiência com a pizza genuinamente italiana. E não foi num dos caros restaurante com gazebos nas calçadas. Comemos de pé mesmo em um lugar onde a pizza é vendida em pedaços oferecidos nas vitrines. Delicia!


Escultura no centro de Florença
   Termini
   A estação principal da capital italiana, Roma Termini, com conexões para trem, ônibus e metrô, embora gigantesca, é super bem sinalizada. Zero dificuldade para achar passagens que se compram em máquinas de auto atendimento, guichês e agências de turismo. A estação é um shopping com todo o tipo de lojas de grife e serviços. 
   Às 16:50h, pontualmente o super trem partiu em direção a Florença. E que trem! Limpo, silencioso, rápido e espaçoso. Poltronas numeradas, wi-fi, ar-condicionado e tomada para carregar celulares, tablets, leptops e afins. Um paraíso para um dependente tecnológico como eu. Estou plugado com o mundo, amigos, filhos e leitores o tempo todo. Falta de bateria e conexão com a internete é o meu calvário. 
   As 18:20h da tarde estávamos na estação central de Florença, ao lado do centro histórico desta cidade fabulosa. Saímos da estação e fomos direto a um central de informações turísticas. 
   O atendimento? Bem, é algo impensável de tão amistoso e profissional. Mostra uma cidade voltada de forma séria e competente para a indústria do turismo. A atendente perguntou em qual hotel estávamos hospedados e ligou imediatamnte para o Sheraton Firenzi Hotel avisando que dois hóspedes haviam chegado necessitando de transporte. O que foi imediatamente providenciado pelo hotel. 
  
   Florença...bem, é um caso a parte. Amanhã conto para vocês a relação de amor que tive com esta cidade. Até uma Kibelândia, no centro histórico da cidade, a gente arrumou!

Fim desta tarde em Florença. Colírio!

OBS: A visita ao museu do Vaticano é um outro capítulo a parte. Contarei pelo caminho.


FLORENÇA, SIENA E TREM RÁPIDO ATÉ VENEZA
Catedral gótica Sta. Maria del Fiore, centro de Firenzi, pracabá!

Perseu com 
acabeça da Medusa

  Despedida de Roma maravilhosa, chegada em Florença, passeio com carro alugado até Siena e partida para Veneza de trem hoje...ufa!
   Oh! Férias corridas...essas, ehehehehe!
   A chegada em Florença, dia 20, foi com sol e muita caminhada. Em uma incursão rápida de reconhecimento fomos até a praça São Marcos, passamos pela Capelle dos Médicis, Basílica São Lorenzo e chegamos no centro nervoso da cidade: a Piazza della Signoria onde está o Pallazzo Vecchio, o mais importante prédio da cidade. Atualmente é a sede da capital da Toscana e abriga o museu Vecchio com obras de Michelangelo, Giorgio Vasari e Agnolo Bronzino.
   Florença é considerada o berço do Renascentismo italiano. Aqui nasceu um dos seus grandes artistas: Dante Alighieri, autor da Divina Comédia...só isso!
Detalhe de afrescos e esculturas do interior do Palazzo Vecchio
   A cidade é plana, cheia de ciclistas e turistas caminhando por todos os lados. É um verdadeiro museu a céu aberto. Suas vielas, piazzas e museus concentram um enormidade de obras de arte de nada mesnos que Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, Botticelli, Rafael, Donatello e outros famosos.
   A Piazza della Signoria foi o local escolhidos por nós em todos os fins de tarde em Florença. Caminhávamos  pela cidade visitando museus, lojas e bares. Ao cair da tarde, já cansados, nos encaminhávamos para a nossa "Kibelândia florentina". Kibelândia é meu bar cotidiano em Florianópolis. Tem semelhança com Florença - guardadas as devidas proporções - na antiguidade: é o mais antigo bar de Floripa, eheheheheh! 
   Sentar no Café Rivoire, de frente para o Palazzo Vecchio, admirando a réplica do Davi, de Michelangelo e uma enormidade de esculturas gigantes em mármore que rodeiam a praça, não preço! É muita arte para os olhos!
   
Detalhe de palácio em Siena
 Ainda na praça outro dia escutamos o seguinte diálogo:
   - Olha só a quantidade de detalhes nestas paredes e esculturas, dizia o marido para a mulher.
   Ao lado, um companheiro de viagem respondeu:
   - Esses caras não tinham mais o que fazer. Só faziam isso. Sá faziam arte.
   Não pudemos deixar de rir com o comentário, mas a verdade é que se pensarmos no tempo e mão de obra empregados na produção daquelas construções, esculturas e obras de arte, é algo inexplicável! Mas é claro que eles faziam outras coisas. Guerras por exemplo. Guerreavam o tempo todo.
   Um exemplo disso eram as disputas entre Florença e Siena. As duas cidades estavam sempre em disputas pelos limites das suas fronteiras. Reza a lenda que para acabar com a pendenga criaram um jogo para resolver pacíficamente a situação.

   Concordaram que numa determinada manhã, quando o galo cantasse, um cavaleiro sairia de Florença em direção a Siena e outro de Siena rumo a Florença. O ponto em que os dois se encontrassem seria a fronteira entre as duas cidades. Siena escolheu um galo branco, saudável, que foi fartamente alimentado e paparicado. Já Florença selecionou um pretinho esquálido, morrendo de fome. Aconteceu que o galo preto acordou primeiro,  "morto da fome", e botou a boca no trombone, foi o primeiro a cantar, muito antes do sol nascer. Logo, o cavaleiro florentino saiu na frente do de Siena, cujo galo paparicado, só cantou muito mais tarde. O cavaleiro florentino chegou a 12 quilômetros de Siena, - quase entrando na cidade.

Piazza Il Campo, a principal de Siena 
   O acordo foi respeitado e o limite entre as duas cidades ficou sendo ali mesmo. Quase todo o território entre as duas cidades ficou sob o domínio da República Florentina. É nessa região que se produz o Chianti Clássico. Os produtores desta região, cerca de 20,  criaram um consórcio que tem como simbolo o Gallo  Nero, àquele magro "morto da fome" que hoje certifica e dá garantia de qualidade aos vinhos da região.
    Estamos agora em um trem rápido à caminho de Veneza após passar um dia em Siena para onde fomos com um Smart alugado Neste momento, vendo as fotos, é difícil não querer voltar. Siena é uma pequena cidadela medieval, totalmente preservada.
   As vielas e escadarias nos levam, sempre subindo, à Piazza Il Campo, a principal da cidade. A praça, em formado de D, é inclinada para o centro formando um anfiteatro gigantesco e tem à sua frente o Palazzo Público com sua célebre Torre del Mangia. A torre tem 102 metros de com uma escadaria estreita que foi galgada degrau a degrau por este "atleta". Só de pensar ficou exausto. Mas a vista panorâmica da cidade é maravilhosa, valeu à pena.

Duomo de Siena projetada e construída entre 1215 e 1263


NOITE GENEROSA NA JOGATINA

     Sempre que viajo curto muito andar à noite pelas cidades. Depois das descobertas turísticas diurnas, invariavelmente saio à noite e caminho sozinho por ruas e ambientes "não tão turísticos". Gosto de conhecer as cidades em todos os níveis. Conhecer butecos, portos e seus entornos são coisas que me apaixonam. Nesses lugares se encontra figuras humanas interessantes, verdadeiras personagens.  
   Normalmente procuro lugares de jogos. Quando legais no país, vou aos cassinos. Quando proibidos, encontro os clandestinos que sempre existem, em qualquer lugar. 
   Hoje busquei uma casa de jogo aqui em Mestre (Veneza). Havia visto uma em frente à estação ferroviária quando cheguei de Veneza. O meu hotel fica a dois quarteirões dali.
   Acontece que esta casa fecha às 7:30h, como tudo no entorno da estação. Acho que é para não fazer "ajuntamento" numa região que concentra todo o tipo de gente. Questão de segurança. Atitude seletiva.
   Sai caminhando pela rua central de Mestre até o centro onde deveria encontrar alguma coisa. A única informação que tive foi de que um táxi me levaria em 10 minutos ao cassino da cidade que fica perto do aeroporto de Veneza. Muita mão, achei!
    De volta para o hotel encontrei um casa de caça-níqueis. Quando vi várias luzes coloridas piscando ao redor de um letreiro, dentro de algo que parecia um bar, tive certeza que ali tinha jogatina. Eba!
   Entrei, dei uma sacada no local - alguns indianos jogando, fumando, é permitido em alguns lugares - e fui até uma máquina, troquei 30 euros por moedas de 1 e 2 euros. A interface das máquinas são bastante amigáveis até porque são iguais às de Buenos Aires, do Chile e de Rivera, fronteira com Santana do Livramento. Aquelas interfaces ingenuas de faraós, Indiana Jones algumas de mulheres erotizadas com seios rosados e voluptosos, uma graça.
   A operação foi rápida. Segunda ou terceira jogada, apareceu um bonos que fui abrindo umas portas e acertando os valores mais altos. Resumo da ópera - ah! tem um jogo do fantasma da ópera - nessa jogada ganhei 300 euros. Imediatamente apertei o botão de pagar e começou aquele tilintar do níquel no alumínio, que tanto gosto.
   Quando a máquina parou de vomitar o gordinho que cuidava da casa, o jogo é estatal, veio e pegou todas as fichas, colocou em um pote e rapidamente levou para uma máquina de contagem. Total 211 euros. Bem, eu havia colocado 30 euros, o lucro estava bom. Peguei 11 euros em fichas e embolsei os 200. Só que quando voltei à máquina havia um aviso em italiano que, pelo que entendi, dizia que a máquina não tinha moedas sufucientes para pagar todo o prêmio. Ou seja, eu havia ganho bem mais do que o gordinho havia me pago.
   Pintou clima! Eu falando em espanhol e o gordinho "se fazendo"! Fotografei a tela com o aviso e botei pressão. O gordinho acabou abastecendo a máquina de fichas e eu fiz ela pagar o restante do prêmio. Consegui sair com 300 euros de lucro, mas foi meio
estressante.
   E tem jente que acha que é fácil ganhar em euros...
   Hoje, quando saia da casa de jogo em Mestre, lembrei de uma certa noite em Irani, Santa Catarina. Estava na cidade para dar uma palestra sobre a guerra do Contestado e depois da palestra fui em busca de uns caça-níqueis que só encontrei em um buteco à beira da estrada. No ambiente, a meia luz, se ouvia boleros. Ajustei a cadeira em uma máquina, meu parceiro, Lucki, em outra e mandamos ver. Ficamos naquele chove não molha de ganha e perde. Ao nosso lado um personagem da região não parava de colocar dinheiro numa máquina. De repente perguntou para uma das meninas que ficavam rodeando os jogadores:
- Quanto custa o programa?
- Cinquenta reais, disse a moça.
- Cinquenta é muito caro, respondeu o galo.
   E aí veio a melhor parte. Uma resposta ironica, cheia de filosofia:
- Pôrra, tu fica gastando uma fortuna aí com ess puta fria e não quer me pagar cinquentão? Vai te ferrar otário!

A MARAVILHA DA CIDADE DAS ÁGUAS: VENEZA!
Foto tirada em dia nublado da ponte de Rialto, quase começo do Grande Canal, Veneza
   Entregamos o Smart alugado em Firenzi, depois de um grande transtorno no trânsito da cidade devido ao Mundial de Ciclismo que acontecia na Toscana.
   Chegamos na estação, compramos as passagens para Veneza no balcão da Trenitália, para às 14:30h daquela 3ºfeira. Filas no balcão e nas máquinas de auto atendimento, em todo lugar, mas a fila anda. Todos as chegadas e partidas são anunciadas em grandes painéis eletrônicos e por um sistema de som. Avisados inclusive os atrasos, como foi o caso do nosso trem para Veneza. 
    Duas horas depois de uma confortável viagem em trem de alta velocidade, chegamos à estação Veneza/Mestre. Dois minutos de caminhada nos instalamos no Hotel Roberta. Um 3 estrelas limpo, confortável, ao lado da estação de trem, banho privativo e custo benefício excelente: 100 euros/dia para duas pessoas.
   Curiosos para conhecer a cidade, largamos as malas e, em uma máquina de auto atendimento, compramos nossas passagens (1,20 euros) para a cidade às 19:30h. A ligação de Mestre com Veneneza se dá por ferrovia/rodovia em uma extensão de 4 km que se percorre de trem em 15 minutos.     
Vista do Grande Canal
 Veneza maravilhosa
   Aí minha gente, mesmo de noite, sentimos o poder de Veneza. Mágica, fervilhante de gente, de barcos, de comércio por suas piazzas ligadas por vielas que abrigam palácios, igrejas, museus, estátuas, fontes, bares e restaurantes em uma profusão impressionante!   As pontes sobre os intermináveis canais que serpeiam pela cidade são outro show à parte! E gente...gente ...gente de todos os lugares do mundo!
   Diante daquele labirinto de pequenas ruelas e becos medievais nos pareceu impossível chegar ao nosso destino: Praça de São Marcos. Estávamos na estação de Veneza a uns quatro quilômetros. Pedimos informações a uma menina que nos disse: - sigam as placas amarelas nas paredes que indicam Rialto e San Marcos. Não deu errada! Embora Veneza seja um labirinto interminável é fácil se locomover pela cidade das águas. É só seguir as placas...ou perguntar aos universitários.
Gôndolas e a Ponte dos Suspiros
   Entre o terminal de trem (estação Sta. Lucia), a Ponte de Rialto e a Praça São Marcos tudo acontece em Veneza. A cada final de ruela se encontra uma praça com restaurantes e lojas cheias de gente. Lá pelas 9 da noite pegamos um vaporeto na frente do restaurante onde jantamos. A viagem saiu de graça devido ao horário, acho. Não havia bilhete para comprar nas máquinas e ninguém nos cobrou nada. Navegamos pelo Canale della Giudecca, passando por gigantescos transatlânticos fundeados na baía de São Marcos e logo entramos no Grande Canal e em 20 minutos estávamos na estação de trem para Mestre.  
Teto da Basílica de S. Giovanni e S. Paolo
  Na chegada ainda fui ao cassino da cidade e tive uma noite generosa no jogo. No outro dia cedo estávamos novamente em Veneza. Mapa na mão e pé na estrada seguimos, desta vez, por um caminho diferente para chegar à Praça São Marcos. Nos foi indicado por um garçom na noite anterior. Começa com o nome de São Geremias e vai trocando até chamar-se Strada Nova. A história é a mesma. Ruelas, piazzas, pontes, comércio e restaurantes em todo o trajeto.    
No meio do caminho encontramos a Basílica de San Giovanni e Paolo. Por apenas 10 euros nos deliciamos com as obras de arte e um ambiente que cair o queixo. Deslumbrante, com monumentos e pinturas como uma estátua bizantina Virgem da Paz, tida como milagrosa. Além disso, tem um pé de Santa Catarina de Siena que é a sua principal relíquia. Pinturas de Giovanni Bellini, Pietro Lombardo, Veronesi e Giovanni Piazzetta.
     Em seguida chegamos à praça e entramos na Basílica de São Marcos, a mais famosa de Veneza e uma das grandes relíquias da arquitetura bizantina. Tem as paredes recobertas por mosaicos de ouro, bronze e pedras variadas.  O piso é do século XII. Uma mistura fascinante de mosaico e mármore com desenhos de animais. Só vendo!
Detalhe na porta de entreda da basílica
    Com a alma enriquecida de tanta beleza e arte, fomos almoçar por ali mesmo de frente para o Grande Canal. Pedimos um vinho, omelete, salada e espaguete com frutos dos mar. No cardápio foram introduzidas duas viúvas argentinas muito queridas. Puxei assunto e converssamos um monte. Veraneiam todos os anos em Florianópolis. Uma tem até um apartamento em Bombinhas. Como havíamos estado recentemente em Buenos Aires, a conversa rolou frouxa sobre política e economia já que futebol é um tema proibido entre nós e los hermanos.  
 Bem, três dias em Veneza é um tempo legal para conhecer suas belezas e chutar latas pelas vielas da cidade. Foi aí que encerramos nossa maravilhosa passagem pela Itália. Roma, Firenzi, Siena e Veneza, cada uma do seu jeito, porém belas e inesquecíveis.
Agora é Eslovênia e Áustria.
Afrescos em ouro e bronze adornam o interior da Basílica de São Marcos


   VIENA CAPITAL CULTURAL DO MUNDO

    "De noite morto de cansaço, só conseguia me rrastar até um desses cafés antigos, o Central, o Landit Mann, o Hawelka, o Frauenhuber, que pareciam cenários da Belle Èpoque, para comer um wiener schnitzel, a versão austríaca do bife amilanesa que a tia Alberta fazia com um copo de cerveja espumosa".  (Vargas Llosa em seu livro Travessuras da menina má)
   
  Lembrando Vargas Llosa entendi imediatamente o que o nosso chauffeur de táxi dizia sobre o mais tradicional prato da cozinha austríaca, o wiener schnitzel!
   Vamos combinar pessoal, a questão do idioma aqui pega de verdade. É muito diferente das línguas latinas. Nem um ouvido preparado e a boa vontade do viajante consegue entender os sons devido a profusão de consoantes indecifráveis!
   Aparentemente grosseira e pesada, a fala alemão não corresponde a atitude dos austríacos sempre extremamente atenciosos, educados, tentando se fazer entender e ajudar em todas as situações. Não foram poucas as que vivemos. A começar pela chegada conturbada em Viena. 
   Para começar o nosso senhorio que deveria estar nos esperando no prédio onde alugamos um duplex, pelo Booking.com, simplesmente desapareceu. Pedimos ajuda a um motorista de táxi que estacionou a nossa frente e se dirigia a um boteco na esquina onde vários taxistas se reuniam e jogavam cartas.
   A pessoa simplesmente deixou de lado seus afazeres para dedicar-se a nos ajudar, inclusive usando o seu celular para contatar o proprietário do apartamento. A ligação para o número de emergência que constava no site do Booking.com, caia sempre em um fax. 
   Sem carga na bateria do meu celular e consequentemente sem internete, fiquei num mato sem cachorro. Não conseguia me mexer para solucionar o problema.
   Depois de um tempo, esperando na rua onde a temperatura começou a cair drásticamente, resolvemos procurar um hotel para passarmos a noite.
   Caminhamos até uma grande avenida e perguntamos a um rapaz onde havia um hotel pelas redondezas. A essas alturas o meu curso de mímica e minha proeficiência em portumão rendiam ao máximo. Respondeu em inglês - aqui todos tem o inglês como segundo idioma - que não sabia mas que iria procurar no celular...imediatamente. Um casal de meia idade que passava pelo local interveio e nos indicou amavelmente o endereço do Amedia Hotel na Landstraßer Hauptstraße 155, 03. Landstraße, 1030 Viena, entenderam???!!!!
   Cansados, nos instalamos no Amedia e dormimos como pedra. Na manhã seguinte, dia maravilhoso de sol, me dediquei a habilitar o celular para internete e conhecemos o centro de Viena. Mapa na mão e pé na estrada. 

  
Centro de Viena repleto de gente no domingo
 A cidade
   A primeira impresão da cidade foi maravilhosa. Com cerca de 2 milhões de habitantes Viena tem grandes avenidas com calçadas e ciclovias, praças e parques (são 2 mil na cidade) urbanizados e limpos. Muito verde e transporte urbano à vontade, ônibus, trem de superfície e metrô todos integrados. Passagens se compram em guichês de estações ou em máquinas instaladas por toda a cidade. Poluição visual zero, assim como as cidades italianas que visitamos. Viena é considerada uma das melhores e mais interessantes cidades do mundo para se viver. A Áustria tem o melhor IDH e é um dos países mais ricos em PIB per capita.
   
Goulash delicioso
   A culinária
   A culinária austríaca é de dar água na boca...rs. Desde que deixamos a Itália e entramos na Áutria comemos super bem. Em um restaurante de Villach, onde fiquei cerca de três horas, pedi um Goulash acompanhado de purê de maçã com raiz forte, coisa de comer de joelhos. Aqui em Viena não foi diferente. Tudo tem sabor, é bem apresentado e servido quente. Se come super bem por 30 euros por pessoa incluindo vinho ou birra.
    


PRAGA, UMA CIDADE PARA NÃO ESQUECER
Moraria nesta cidade...
      Quando vesti a "campeira" grossa para descer e comprar yogurte no mercadinho do coreano ao lado do Ametyst Hotel Praha, já passava das 10 da noite. A temperatura tinha caído bastante, beirava os 7 graus e era potencialiazada por um leve mas terrível ventinho. Naquela noite, Praga tinha um céu azul. O dia tinha sido maravilhoso, como os dois anteriores desde a nossa chegada.
    
Sophia e  črt, amigos
    Era quarta-feira à tardinha quando chegamos na estação central de Praga provenientes de Viena. A viagem de trem foi ótima. Dividimos uma cabine de seis poltrona com um casal jovem que, após 3 horas e meia, tornou-se amigo.
Não dá prá entender...
   črt (se pronuncia chuêrt), nasceu na Eslovênia. Formado em Letras e Filosofia hoje faz curso de montagem de filmes em Praga. Sophia, é tcheca, estuda música e canto na universidade. É cantora e se apresenta com grupos folclóricos e de jazz. A aproximação foi possível porque črt falava algo de inglês e outro tanto de italiano e espanhol. A medida que conversávamos ele fazia tradução simultânea para a namorada. A conversa foi bastante surtida. Música, arte, cinema, economia, história e fatalmente política. A herança comunista no leste europeu não é nada recomendável. Os jovens não foram os primeiros a reclamar dos anos de obscurantismo do domínio soviético sobre seus países. 
O imponente Museu Nacional da República Tcheca
   Senti o vento frio cortando a pele do rosto mas não desisti de dar uma banda pelos bares das redondezas do Museu Nacional, centro da capital da República Tcheca. Comprei o yogurte, deixei na geladeira do bar do hotel e vazei na primeira esquina com a rua Bélgicka. Na  seguinte havia um pub que já estava mapeado, tinhámos passado por ali no segundo dia de Praga a caminho do Ametyst Hotel Praha. O bar estava aquecido de música, conversa, bebida, risadas e muita fumaça de cigarro. Fumei como doido...fazer o que!
   O Ametyst foi o nosso segundo hotel na cidade. O primeiro, Julis Hotel, ficava na Václavské náměstí, número 22, ou seja: na cara do gol. Por um erro de planejamento acabamos ficando lá um dia só e depois nos mudando para o excelente Ametyst.
Grafiti às margens do Vltava 
    Se em Viena tivemos dificuldades com a lingua alemã, imaginem com o idioma tcheco, língua esláva. Faltam vogais para os amigos! Pelo nome do companheiro de viagm črt, já dá para sentir o clima. Afora isso, por uma questão de orgulho nacionalista os tchecos cansados de invasões militares e culturais, hoje resistem a todas as tentações de usar qualquer outro idioma nas suas placas de indicação turística, resistem ao uso do Euro dificultando o entendimento e negociações com moeda que não seja a Coroa tcheca.

Igreja de São Nicolas na Staromestké Nám
   Sem mesmo ter pedido uma bebida o proprietário da casa, com cara de hippye que chegou a pouco de Woodstock, me serviu um "balde" da excelente cerveja tcheca. O jogo já estava 2 a zero para o Bayer de Munique em cima do Manchester City. O som do narrador da partida de futebol na tv se misturava com um tipo de rock "eslavo" que tocava alto nas quatro salas da casa transformada em bar. A balburdia da conversa em idioma ininteligível e uma bruma de fumaça fedorenta de cigarro atingia a todos na altura da cabeça, Encostado no balcão, vendo o jogo e tentando entender o que realmente era aquele ambiente fui ficando cada vez mais alegre e embriagado. Tinha esperança de, até o final da noite, entender o idioma e o comportamento tcheco...em vão.
Pedi a conta das três canecas de cerveja para voltar ao hotel e levar o yogurte para o quarto, a conta me foi apresentada em Coroas. Pedi a conversão em Euros e o amigo se negou a fazer. Fiz uma conversão na calculadora do celular a um preço bastante amigável...para o dono do bar. Ofereci o dinheiro, ele aceitou com um sorriso e uma baforada de fumaça na cara.
Del otro lado del rio...
Também sorri, vesti a campeira e me despedi dos fumantes e bebedores. Quando deixei a porta do bar para trás houve àquela divisão na realidade. Mesmo constatando que o frio tinha aumentado, senti um alívio ao perceber o ar frio entrando pelas narinas e gelando os meus pulmões. Respirei com vontade e profundamente, engatei uma primeira e só parei na esquina com a Bélgicka para ver uma discussão entre dois bebuns. Tentei entender porque brigavam. Desisti...aquele velho problema do idioma, sabes?   
Václavské náměstí: arrebatadora
   Não usamos metrô em Praga. A cidade é fácil de se conhecer caminhando e tudo que nos interessava ficava relativamente perto, com exceção da Catedral de São Vito, do outro lado da Karluv most. O local de prédios medievais reúne além da catedral, várias capelas, a Basílika Sv. Jiri e o Castelo de Praga onde os reis e imperadores da Boêmia tinham seus escritórios. Hoje é local de despacho do presidente da República Tcheca. A entrada do castelo é fechada pelo Mathias Gate, portão onde acontece a troca da guarda de hora em hora, registrada por centenas de máquinas fotográficas de turistas do mundo todo. 
Cidade velha vista da ponte Carluv
   Além disso tudo, o gigantesco complexo arquitetônico e cultural que fica no topo de uma montanha abriga museus, galerias, palácios e jardins maravilhosos por onde se chega através de uma subida íngrime ladeada por contruções típicamente medievais com restaurantes e lojas de souvenir. 
Desencontrados nas ruelas do centro de Praga
  
Cheguei no hotel abaixo de tempo ruim. Na verdade frio, com um leve ventinho o que fazia com que a coisa se complicasse um pouco. Peguei o yogurte, levei para o quarto 510 e...não resisti. Não me contentei somente com um bar, voltei para a rua. Quando dobrei a esquina da Bélgicka pela undécima vez parecia que a rua tinha se amoldado ao meu corpo. A inteligencia corporal do meu ser havia incorporado todas as informações visuais de espaço, localização, movimento das árvores e dos carros, foi como enfiar o pé em uma meia confortável...me senti em casa. Já era dali! Tudo começou a ficar mais fácil e interessante. Desci umas cinco quadras até a Václavské náměstí, calçadão do centro, e mergulhei na verdadeira noite de Praga. Alguns contatos muito diretos com uns romenos, ciganos talvez, não foram de todo satisfatórios. Mas saí precavido. Dinheiro no bolso da frente da camisa, passaporte pendurado no pescoço, sem carteira e com os olhos bem abertos, mas bem abertos mesmo. Assim se anda no bas fond de Praga.

Relógio Astronômico. A grande atração.
   O fato de não ter usado metrô acabou nos tirando a oportunidade de conhecer as estações subterrâneas de Praga tidas como as mais belas do mundo. Uma lástima. Em compensação caminhamos durante três dias de sol e céu azul por toda a região central cortada pelo rio Vltava que pode ser atravessado por diversas pontes. A Carluv most é a mais bonita e dá acesso ao bairro Hradcany onde está o Castelo de Praga.
Concentra o maior número de desenhistas, pintores e grupos musicais que tocam música medieval e jazz e tem uma vista deslumbrante da cidade. Só permitido atravesá-la à pé. Tudo isso no centro. 
   Praga foi afortunada durante a guerra. Ao contrário de outras capitais européias, severamente bombardeadas e destruídas, mantém um acervo arquitetônico invejável. Suas ruas com todos os seus prédios medievais intactos parecem saidos de antigos contos de fadas. 
   A Staromestké Nám, a mais famosa praça de Praga, é extremamente acolhedoura. Cercada de cafés e restaurantes é dominada pelas torres góticas da igreja Nossa Senhora de Týn e pela barroca
O caminho das pedras...
 São Nicolas. Recheada de cantores e grupos musicais, a grande atração da praça é o Relógio Astronômico que fica o prédio da antiga prefeitura. Centenas de turistas se aglomeram ali de hora em hora para ver o desfile de bonecos que anunciam uma nova hora. Um show a parte. Mas o grande lance é sentar num dos cafés, pedir uma birra tcheca, todas são boas, e ver a vida passar, bem ali na frente.

    Depois do terceiro bar e muita conversa na rua resolvi voltar para o hotel pois a encrenca já estava de bom tamanho. Remanchei um pouco para sair de um labirinto de ruelas até encontrar a Staromestké Nám. Daí em diante foi mamão com leite. Precavido, havia fotografado as placas com os nomes das ruas por onde passei. Não deu outra, voltei prá casinha são e salvo e com histórias para contar.





DE VOLTA AO PARAÍSO, PORÉM...



   Depois de um tempo fora é muito bom voltar para casa! Ser recebido pelo filhos, pela neta, pelo Bakunim - meu velho cão anarquista - e acordar com um dia maravilhoso como esse aqui na praia do Campeche, não tem preço!
   Cedo e fui dar uma caminhada pelo bairro. O dia não poderia ser mais convidativo. Treinado de tanto bater perna pela Itália, Eslovênia, Áustria, República Checa e Alemanha, em 22 dias de viagem, não foi difícil percorrer o circuito Rua da Capela, Av. Pequeno Príncipe e retorno pela areia branca da praia do Campeche.
Novidade em área de preservação
   Porém, caminhando feliz com o sol na cara, ao passar pela praia do Riozinho me deparo com um novidade: uma construção nova em cima das dunas, área de preservação permanente, bem ao lado do barracão dos pescadores. Nada de concreto e ferro, é verdade, mas um "puxadinho" de madeira bem ao estilo dos "empreendedor de verão" aqui na Ilha. Vai a foto e a pergunta aos fiscais do Ibama, Fatma e Floram:
1 - A construção do puxadinho está dentro das leis e normas que regem a ocupação e o impacto ambiental nesta área?
2- Seria este um equipamento construido pela comunidade para abrigar salva-vidas na temporada de verão?
3- Ou o "puxadinho" é um equipamento autorizado pela Prefeitura Muicipal para ser explorado com venda de bebidas e lanches durante o verão?


   Outra coisa que me chamou a atenção nesta caminhadinha pelo bairro foi o estado do cemitério aqui nos fundos de casa. A cerca, da parte que margeia a servidão que leva até à praia, ao lado da Igrejinha de São Sebastião, está toda rebentada com os arames enferrujados, enroscados pelo chão e com pontas perfurantes para todos os lados. Em certos lugares os arames estão no chão permitindo inclusive a entrada de animais. Um aspecto de total abandono.
   Segundo me relatou um morador que encontrei no caminho, já em janeiro a prefeitura teria sido comunicada sobre a cerca e depois de mandar uma empresa fazer o levantamentonada mais aconteceu. 

   Aí prefeito César Junior, o Campeche está precisando de uma atenção especial. Não são grandes obras, apenas um olhar mais cuidados com o nosso bairro. São pequenas coisas mas que trazem grandes benefícios para  a comunidade.